2018-10-31

O setor público vive à custa do privado?

Diz que o Estado vive à custa do setor privado que o setor público não cria riqueza. Vejamos alguns exemplos concretos a ver se esta ideia resiste.

A educação e a saúde, setores mais importantes da atuação do Estado, mas que existem no privado. Será que um professor no privado cria mais riqueza que outro numa escola pública? Um médico ou um enfermeiro numa clínica privada geram mais valor que num hospital público? Não há nenhuma razão para pensar que o privado tem vantagem.

Os CTT foram uma empresa pública lucrativa. Depois de privatizada passou a criar mais riqueza ou emprego? Pelo contrário, os CTT encerraram balcões, despediram centenas de trabalhadores a qualidade dos serviços prestados vai de mal a pior. Onde é que os CTT criam agora mais riqueza? Distribuem cada vez mais lucros aos acionistas privados.

Com a privatização dos correios – ou dos transportes, telecomunicações, eletricidade, aeroportos, cantinas escolares, etc - a população em geral fica muito pior, os trabalhadores ficam sempre a perder e um grupo restrito fica a ganhar e muito! A privatização não cria mais riqueza, cria ricos, à custa da empobrecimento da maioria.

Há atividades que não devem estar nas mãos de privados sujeitas à lógica do lucro: a saúde ou a educação porque põem em causa a dignidade do ser humano; os transportes, comunicações, a eletricidade, porque não há condições para a concorrência, os investimentos são muito pesados, só o Estado os pode fazer e o risco de abuso é muito alto; a banca que pode condicionar de forma tão dramática toda a economia e tem de estar subordinada ao interesse geral.

A banca privada, que exemplo. Quando há lucros são dos privados, quando há prejuízos o Estado - todos nós - tem de acudir, para evitar males maiores.

Ainda pensa que o Estado vive à custa do privado? Mas há muitos empresários a viver à custa do Estado, os negócios com o setor público é que dão grandes lucros, as PPP’s, as concessões...

A riqueza não se resume aos lucros dos patrões, os salários de quem trabalha também são riqueza. O Estado cria riqueza igual ou melhor que o privado e distribui de forma mais justa. Sem Estado a maior parte das pessoas não teria acesso à saúde ou à educação, por ex.

Quem “vende” o mito que o Estado vive à custa do privado é quem tem interesse nas privatizações, quem recolhe os lucros – os investidores, cada vez mais ricos e poderosos. A população em geral (os trabalhadores, forçados a trabalhar mais e a ganhar menos), fica a perder, com menor qualidade dos serviços, mais sujeita a comprar gato por lebre - quanta gente já foi enganada na banca ou nas telecomunicações?
Qual é o seu lado, o dos investidores ou o de quem vive do seu trabalho?


(publicado em dnoticias.pt em 30/10/2018)

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