(4 de março de 2018)
I – Contexto externo
1- O mundo em crise
O mundo confronta-se com várias crises que se alimentam mutuamente e
frustram a esperança numa vida melhor e empobrecem a Humanidade. A crise financeira iniciada em 2008,
originada pela desregulação dos mercados financeiros, pela privatização da
banca e pela especulação imobiliária, não foi superada e pode reaparecer com
maior violência, pois os fatores que a geraram não foram corrigidos, mas sim
acentuados.
A hegemonia neoliberal em vez de ser posta em causa com a crise saiu
reforçada e a sua agenda ideológica prossegue, com os tratados de comércio internacionais
e a pressão para o aprofundamento das ditas “reformas estruturais” que, na
prática, significam mais privatizações ou concessões dos serviços públicos,
desregulação, desproteção dos trabalhadores e dos consumidores.
A crise da Democracia e do Estado de Direito, recuam em várias frentes e em
escalada face à ascensão de governos autoritários, demagogos e populistas um
pouco por todo o Mundo e recuam perante o poder económico e a ideologia da
realidade. O terrorismo, em vez de ser combatido é alimentado pelas campanhas
de “exportação da liberdade” pela força das bombas, pela proteção dada a
regimes obscuros (como a teocracia saudita), pelo esmagamento da esperança da
primavera árabe e através das atrocidades cometidas pelo expansionismo
israelita. Surgem novos sujeitos (Al-Qaeda, Daesh) para receberem o odioso da
barbárie e desviar as atenções dos atropelos cometidos pelo imperialismo e
pelos regimes seus protegidos.
A crise ecológica com o aquecimento global e respetiva subida do nível dos
oceanos vai afetar milhões de pessoas nas cidades costeiras e obrigá-las a se
deslocarem para outros locais. As populações mais pobres serão as mais
afetadas, quer as dos países pobres quer as das periferias das cidades ricas.
Realidade negada por lunáticos como
Trump e pelos poderosos interesses das indústrias dos combustíveis fósseis. A
destruição das florestas tropicais, para obter terrenos para a agricultura e
criação de gado e mais recentemente para responder ao chamado capitalismo verde
e às plantações para produzir biocombustíveis. A desertificação e escassez
crescente de água potável são motivos prováveis para uma próxima guerra em
larga escala. A destruição de habitats e a predação dos recursos naturais em
nome do lucro colocam em risco as condições de vida para os seres humanos.
A crise social, consequência da crise económica e do recuo do estado social,
acentuada pela crise ambiental, pela globalização desenhada para servir os
interesses do lucro do capitalismo sem regras, nivela por baixo as condições de
vida e de trabalho.
O desemprego e as deslocalizações de empresas, as guerras, o terrorismo e
as migrações, a liberalização dos movimentos de capitais, os paraísos fiscais e
a chantagem sobre os Estados para uma fiscalidade atrativa para os
investidores, a dívida, as privatizações, a desproteção das relações de
trabalho em nome das condições favoráveis ao crescimento, o empreendedorismo, a
mistificação do caráter sobre-humano dos investidores e a ilusão que os
problemas sociais afinal são individuais e que as respostas coletivas através
do Estado ou de sindicatos são desnecessários, são aspetos duma realidade construída
à medida dos interesses dos senhores do dinheiro mas apresentada como natural e
contra à qual é inútil lutar. Esta é a ideologia da realidade, que é tudo menos
natural e que é possível combater via mobilização coletiva alargada além das
fronteiras nacionais e das fronteiras dos sujeitos políticos e sociais. Uma
realidade global que tem de ser combatida de forma global.
Existem sinais de esperança! A campanha de Bernie Sanders nas primárias
americanas, a de Melenchon nas presidenciais francesas e a de Jeremy Corbyn
pelos trabalhistas ingleses, apontam caminhos viáveis para a Esquerda.
2
– A Europa num labirinto
A Europa da paz, da solidariedade e da convergência foi esmagada pelos
mercados. O mercado único, era tido como o meio para criar prosperidade para
todos e atingir o objetivo último da construção europeia - a Paz no continente.
O mercado passou ele a ser um fim em si mesmo e a Paz, essa perdeu-se de vista.
A resposta à crise bancária de 2008 acentuou os problemas e transformou-a numa
crise das dívidas soberanas e, por arrastamento, numa
interminável crise económica e social. Os bancos foram salvos e as esperanças
dos povos numa vida melhor são continuamente defraudadas. A moeda única, apresentada como um
instrumento para a convergência do nível de vida entre os países membros, com a
sua arquitetura defeituosa revelou-se um fator de agravamento das desigualdades
de rendimentos quer a nível europeu, quer à escala nacional, e um instrumento
eficaz de imposição da agenda ideológica neoliberal. O Euro contribui para
esmagar o estado social, restringir o leque de opções de políticas dos governos
nacionais e sequestrar a Democracia.
Todavia, a ideia de Europa como comunidade dos seus povos permanece uma
utopia válida e necessária para honrar a tradição internacionalista da
esquerda.
3 -
O quadro Nacional
O Bloco de Esquerda foi decisivo para a mudança no quadro político em
Portugal desde as últimas eleições legislativas e para a formação de uma
maioria de esquerda. Morreu a ideia de que existem partidos aptos a governar e
outros que apenas servem para protestar. O apelo ao voto útil dificilmente voltará a ter a
mesma eficácia e o Bloco de Esquerda é reconhecido como uma força com
credibilidade e com soluções concretas para melhorar a vida das pessoas. A preservação deste capital político exige
autonomia de atuação e capacidade crítica face ao tradicional impulso do PS
para convergir com os grandes interesses económicos. É necessário confrontar o
eleitorado com as contradições da direção política daquele partido, com as opções
que frustram as expectativas dos trabalhadores para que reconheçam cada vez
mais a utilidade e a força do Bloco.
O Bloco surgiu para reconfigurar a Esquerda. Após alguns anos de recusa cega
de entendimentos com o PS, a nível nacional, regional ou local, o BE parece ter
caído num certo encantamento com a atual maioria o que pode pôr em risco a sua
autonomia e imagem perante o eleitorado. O Bloco tem que erguer as suas
bandeiras e vincar as suas propostas concretas de acordo com o seu programa
político.
O Presidente da República foi um garante da estabilidade desta maioria para
desespero da sua família política, mas esse papel terminou após as autárquicas.
O primeiro grande objetivo já foi conseguido - mudar a liderança do seu partido
- agora a atitude para com o governo já se alterou procurando dividir a atual
maioria e reconstruir o bloco central dos interesses.
II – A mediocracia regional
4
- Renovação decadente
A propagandeada renovação no governo regional revelou-se um embuste. A
submissão descarada dos interesses gerais da população aos interesses privados
dos novos donos da Madeira persiste e explica a falta de resposta aos problemas.
As limitações nas ligações ao exterior, marítimas e aéreas, o elevado custo de
vida, o isolamento do Porto Santo, o desemprego, a pobreza, a emigração e a
exclusão social persistem. A Autonomia é usada como um espantalho na tentativa de ocultar a satisfação
dos apetites dos donos da Madeira à conta do orçamento da Região e em evidente
prejuízo para o povo.
A remodelação consistiu no retorno às políticas desastradas do passado
recente, que criaram o buraco da dívida, levaram à bancarrota, à perda de
empregos e de rendimentos.
A dívida serviu para criar muitas fortunas, mas é o povo trabalhador quem
tem estado a pagar com o aumento dos impostos (IVA, IRS), com o corte do
subsídio de insularidade ou com a degradação dos serviços públicos com
particular evidência na Saúde. A remodelação mostra o grande poder dos lóbis, que são quem beneficiou com
o buraco da dívida e que continua a comandar a ação do governo regional.
5 – Uma oposição incapaz
Nas eleições regionais de 2015 os três partidos mais representativos da ALRAM
estiveram em queda, sendo que os dois do bloco central registaram os seus
piores resultados de sempre. Após mais de 40 anos de
Autonomia, sempre com o mesmo partido no poder e de todo o desgaste daí
resultante, a oposição ainda não conseguiu apresentar-se como uma alternativa
credível. Esta realidade diz muito da competência das lideranças políticas e da
qualidade das estratégias seguidas.
Há um partido que diz ser a alternativa, mas que se consome, ao longo dos
anos, em lutas internas. Um outro que hesita entre ser oposição ou a muleta do
poder. Uma nova força que não consegue ter consistência ou visão definida para
um âmbito mais alargado que a paróquia onde apareceu. E uma esquerda
conservadora e ensimesmada, perdida no labirinto dos seus dogmas e de velhas
palavras de ordem.
Os bons resultados alcançados pelos novos partidos são sinal de grande
vontade de mudança do eleitorado e de insatisfação com os partidos
tradicionais e com os seus protagonistas. A entrada de novas forças políticas num qualquer
quadro parlamentar só ocorre por incapacidade dos partidos mais antigos em
responderem às expetativas dos eleitores, em preencherem a totalidade do espaço
político. No parlamento da Madeira, desde 2007, foram cinco os novos partidos que
se fizeram representar.
6 - Bloco de Esquerda acomodado
Se o surgimento de novos partidos revela incapacidade dos já existentes, o
Bloco, em particular, foi o menos competente, já que foi ultrapassado por todos
eles. Em 2011 o BE foi o único, dos então nove concorrentes, a não eleger
deputados - inédito.
Em 2015 o BE regressou ao parlamento e formou um grupo parlamentar, invertendo
uma série de maus resultados que registava desde 2009 o que também deu ânimo ao
partido a nível nacional. Nas legislativas de outubro de 2015 o BE surpreendeu
ao ser a terceira força mais votada na Madeira, elegeu um deputado à Assembleia
da República, com 10,7%, e pela primeira vez com um resultado na região superior
ao obtido a nível nacional de 10,2%.
No entanto, não conseguiu ou não quis aproveitar esses resultados para se
afirmar e para consolidar a sua força, cativar novos aderentes e quadros
qualificados, instalar núcleos locais, implantar-se no terreno e reforçar a sua
atuação política.
Submissão a terceiros
Nas autárquicas, o BE foi fulcral para a Mudança na CMF em 2013 e para a
sobrevivência da coligação na crise que conduziu à demissão de vereadores e da
presidente da AM. A participação na coligação Confiança foi também fundamental
para evitar o regresso ao passado. O BE deve manter a atitude responsável tida
no anterior mandato, mas com mais exigência e consciência crítica, com
fidelidade aos princípios, aos valores e ao seu património político, que
prevalecem sobre compromissos conjunturais.
Os interesses do BE não foram defendidos no novo acordo da Confiança. As decisões
estavam tomadas antes das negociações oficiais terem lugar e o coletivo,
mais uma vez, foi desrespeitado sendo chamado no último momento e sob pressão
para ratificar um acordo, sem tempo para refletir sobre os termos e menos ainda
para encarar um caminho alternativo. Uma tática habitual de quem coloca o coletivo
perante factos consumados e não respeita os aderentes nem as mais elementares
regras democráticas. O BE deveria ter exigido maior representação na assembleia
municipal, nas freguesias e uma presença no executivo bem como a autonomia dos
seus eleitos na Assembleia Municipal. Nos atos eleitorais de 2015 no concelho
do Funchal registou-se uma relação de forças de dois para um. O BE deveria ter
exigido uma representação nas listas nessa proporção - um candidato seu por
cada dois do PS em todos os órgãos.
A atuação do partido no âmbito da coligação é marcada pela dificuldade em
assumir publicamente divergências face às opções do executivo municipal. Se por
um lado isso protege a coesão da coligação como um todo, por outro prejudica a
imagem do Bloco e a sua autonomia. Lealdade não é submissão.
Na ALRAM o Bloco tomou posições condicionado pelo grupo municipal onde se
insere e que é dominado pelo PS. Os eleitos do Bloco estão na ALRAM para fazer
oposição ao poder regional, defender a sua linha política e não para defender
terceiros.
Nas restantes autarquias os resultados do BE foram dececionantes,
consequência do pouco investimento efetuado, da tardia e desorganizada
preparação do processo eleitoral, da falta de meios e da fraca ou nula
implantação nas localidades. Foram umas eleições apenas para cumprir
calendário.
Sem rumo
O rumo do Movimento atual não é claro, onde quer chegar e qual o quadro de
referência em relação ao qual a sua atuação é definida. Quer parecer autonomista, alia-se ao poder
em exigências a Lisboa, queima um agendamento potestativo sobre a Autonomia -
tema favorito do partido no poder - e pouco tempo depois aparece como o
único partido a defender o primeiro-ministro, num voto de protesto por
desrespeito aos órgãos de governo próprio. Além de inconsistente é um frete à
maioria. Acusa supostos “democratas de esquerda” de
serem “autonomistas envergonhados” o que não é mais que subscrever as teses do
poder de que a esquerda não defende a Autonomia. Deixa passar em branco a
proteção aos privilegiados do regime, subjacente à intenção de não aplicar na
região o Imposto Adicional do IMI, proclamando “os ricos que paguem a crise”. É
inconsequente e anacrónico.
Estes são alguns exemplos de atuação sem rumo nem estratégia e apenas
motivados pela necessidade de aparecer nas notícias. Não basta “saber dizer batatas duas vezes seguidas”,
é necessário que as pessoas identifiquem um fio condutor, um nexo entre as
diferentes intervenções e que reconheçam coerência e credibilidade.
Servir o coletivo
O Bloco de Esquerda na Madeira nunca teve condições tão favoráveis para se
afirmar, crescer e cativar novos militantes, instalar núcleos nos
concelhos e freguesias, realizar mais atividades e debates, dar maior e melhor
uso ao Espaço Paulo Martins, envolver os militantes e simpatizantes. Falta
interesse!
O BE não exigiu um vereador na CMF, com o argumento de não ter pessoas
competentes para o cargo. Além de falsa, tal
afirmação é ofensiva para os militantes. Mostra uma presunção de “seres
superiores” no partido, que reservam para si o exclusivo da representação em
cargos eletivos e que nem se dignam a ajudar na campanha eleitoral - como se o
partido nem os merecesse.
A rotatividade na ALRAM não foi praticada nesta legislatura ao contrário do
habitual neste Movimento.
Um conjunto de situações que revelam um estratagema pessoal em desfavor da
missão do coletivo e que castram o crescimento do partido. Tudo se centraliza no coordenador,
deputado, líder parlamentar, gestor da informação na internet, redes sociais,
correio eletrónico, base de dados de militantes, assessor de imprensa,
intermediário da comunicação entre dirigentes, à moda de “Único Importante”. Aos funcionários são atribuídas, sobretudo,
responsabilidades menores, trabalhos braçais e muito pouco trabalho e discussão
política.
Autonomia
A Autonomia Regional é proclamada para fora, mas não é praticada nem
discutida internamente. Todas as decisões chegam de Lisboa como fatos
consumados.
A revisão do Estatuto Político e Administrativo da Madeira, em curso na ALRAM,
é da maior importância. O Estatuto foi o tema das únicas jornadas
parlamentares realizadas até ao presente e com a presença de dirigentes
nacionais. É óbvio que tem de haver articulação com a direção nacional e o
grupo parlamentar na AR, mas isso não substitui o debate a nível regional. Os bloquistas da Madeira serão incapazes
de refletir sobre a Autonomia da sua própria região?! Não existem outros assuntos
de relevante importância para promover mais jornadas parlamentares?
Comunicação pouco eficaz
No discurso do Movimento abusa-se de chavões e frases feitas. Muitas vezes
redondo, hermético, incompreensível e sem conteúdo como são exemplos combater o
“jardinismo” ou a “primavera albuquerquista”. É necessário
incutir um discurso que as pessoas entendam e nele reconheçam respostas às dificuldades
concretas que enfrentam nas suas vidas. “jardinismo” é, neste momento, para muitos tido como algo de
positivo, depois de três anos de governação desastrosa.
III – Construir o sonho
7 - Um partido para fazer a diferença
Perante um cenário de descrença em relação aos políticos, a falta de
respostas do governo aos problemas e a frágil alternativa que é a oposição
existem boas condições para o Bloco de Esquerda afirmar-se como a força
portadora da esperança, com propostas claras de mudança de políticas na defesa
do interesse geral e contra os interesses particulares. Uma simples mudança de
atores, per si, não é suficiente. O BE pode e deve fazer a grande diferença no
quadro politico regional.
Organização interna
O BE tem muito a melhorar na sua organização interna. Deve implantar-se no terreno,
instalar núcleos locais para desenvolver trabalho de base, identificar os
problemas e desencadear a mobilização social na busca de soluções. Deve criar
grupos de trabalho ou núcleos temáticos para envolver especialistas, abrir o
partido, produzir conhecimento, estabelecer redes de contatos e dar conteúdo e
consistência à intervenção do partido. Deve seguir uma lógica da partilha de responsabilidades
e delegar tarefas, designar responsáveis pelas diferentes áreas temáticas e da
organização interna. A função principal dos funcionários é o trabalho político,
o organizar de dossiês e preparar as intervenções para os debates.
A Autonomia política não pode continuar a ser proclamada só para fora devendo,
também, ser praticada dentro do partido. A organização regional do BE
reivindica autonomia no plano interno proporcional à que defende para a Região.
O BE deve aprovar regulamentos próprios sempre que os regulamentos nacionais do
partido não se revelem adequados às particularidades dum território insular e
ultraperiférico.
Dinamismo
É urgente imprimir novos dinamismos e ir ao encontro das pessoas, dos seus
problemas e dar-lhes voz na
resolução dos problemas identificados. O Bloco deve marcar a agenda, planear as
intervenções a médio prazo, eleger um tema forte em cada momento político e não
se deixar levar pelos acontecimentos. Deve promover mais debate político, conferências sobre
as grandes questões para o futuro da Madeira de onde resultem propostas com
impacto concreto para a melhoria da vida das pessoas.
Importa programar um calendário das efemérides a assinalar, preparando-as com a devida antecedência e com a dignidade que merecem: 25 de abril, 1º de maio, dia do ambiente, dia da sustentabilidade da terra. Falar, debater e encontrar caminhos alternativos às problemáticas socialmente úteis e com conteúdo político como sejam as áreas do ambiente, da integração social de pessoas com deficiência, da valorização da experiência e do saber dos idosos e na defesa dos direitos dos animais. Cabe ao Bloco desenvolver atividades de consciencialização para as chagas sociais e o conservadorismo enraizado na sociedade: o alcoolismo, a violência doméstica e a igualdade de género, os preconceitos hediondos com base na identidade sexual, étnica ou na origem e classe social.
Importa programar um calendário das efemérides a assinalar, preparando-as com a devida antecedência e com a dignidade que merecem: 25 de abril, 1º de maio, dia do ambiente, dia da sustentabilidade da terra. Falar, debater e encontrar caminhos alternativos às problemáticas socialmente úteis e com conteúdo político como sejam as áreas do ambiente, da integração social de pessoas com deficiência, da valorização da experiência e do saber dos idosos e na defesa dos direitos dos animais. Cabe ao Bloco desenvolver atividades de consciencialização para as chagas sociais e o conservadorismo enraizado na sociedade: o alcoolismo, a violência doméstica e a igualdade de género, os preconceitos hediondos com base na identidade sexual, étnica ou na origem e classe social.
Transparência
Um partido é um coletivo de pessoas e todas elas são importantes. O
contributo de cada uma, somado aos contributos gerais acrescentam assunto,
suscitam discussão e abrem novas vias de debate no panorama social e político
regional.
O respeito integral pelos processos de decisão coletivos e participados dos
órgãos não podem ser alterados ou adulterados pelo coordenador, à socapa dos
demais dirigentes. Fazer diferente do que se decidiu em órgão colegial, para
além de nada democrático, deturpa as decisões e o rumo político do Movimento. O
coletivo não pode ser invocado apenas para diluir responsabilidades pelos
desaires ou para confirmar compromissos já assumidos por terceiros sem debate
prévio.
No Bloco devem ser apresentados relatório periódicos das contas ao órgão
máximo entre convenções, com detalhe e explicação das despesas.
Comunicação eficaz
Diversificar os porta vozes para as diferentes áreas temáticas mostrando
que o partido tem mais pessoas capazes além dos deputados eleitos.
Promover a rotatividade nos cargos em que tal seja possível possibilitando
dar experiência política e exposição pública de novos quadros - o partido não
pode ficar refém de uma ou duas pessoas.
Adotar uma comunicação mais clara e percetível - falar para as pessoas e
dizer coisas concretas e com conteúdo que elas entendam e lhes digam respeito
por contraponto a chavões ocos.
Um partido mais forte e
mais aberto
O Bloco é uma força que defende a ação coletiva, a liberdade, a democracia
e a transparência. Valores para se levarem a sério e se porem em prática na
vida interna. As e os aderentes devem envolver-se ativamente nas dinâmicas
locais e sociais, não na perspetiva de as dominar, mas para articular sempre
que possível a atuação do partido com a das associações e sindicatos, na ótica
de ampliar o seu impacto e ação sobre a sociedade.
Um Movimento que tem um enorme orgulho no seu passado, nas lutas então
desenvolvidas e nos seus protagonistas deve não só dar-lhe continuidade no
presente, mas também ampliar o campo de ação adaptando-se a novas realidades para,
assim, se fortalecer.
Estratégia política
Uma linha política clara na defesa do interesse público, de quem vive do
seu trabalho, do bem comum e enfrentando, sem transigências, o parasitismo dos
interesses privados na economia e a sua promiscuidade na relação com o setor
público.
Os chamados inimigos do povo madeirense não se encontram no exterior mas
sim na Região. São os velhos e novos senhorios que fazem o jogo político que
mais lhes convém, alimentam os seus negócios privados à custa do orçamento
regional, encarecem o custo de vida para quem trabalha, bloqueiam tudo o que
não controlam. São estes os inimigos do povo a combater. Apontar inimigos externos é uma
manobra de diversão, uma tática velha de governos corruptos e incompetentes, de
aspirantes a tiranetes, para esconder a sua má governação e o favorecimento de
alguns em prejuízo de muitos. Diabolizar inimigos externos é um velho
truque para tentar entalar a oposição regional: se esta alinha na cruzada
contra o suposto inimigo externo, anula-se enquanto oposição e torna-se aliada
do poder, branqueia as suas responsabilidades e subscreve a tese que o poder
instituído é de facto o verdadeiro e único defensor da Autonomia. Se não
alinha em tal cruzada é acusada de anti-autonomista e sujeita a forte chantagem
que repete até à exaustão. O caminho passa por denunciar o estratagema,
desmontar a ideia de inimigo externo e apontar os verdadeiros responsáveis
pelos problemas locais que se arrastam e agudizam no tempo.
Devemos fortalecer o combate e não alimentar os mitos do PSD: o do povo
superior que o dos imaginários inimigos externos da Madeira.
Mas o objetivo do Bloco não se reduz a derrotar o PSD! A Madeira precisa de
muito mais que isso. Precisa de mudar realmente as políticas da exploração, da
discriminação, do empobrecimento do povo com a concentração da riqueza em meia
dúzia. O grande objetivo é transformar a sociedade, reduzir drasticamente as
desigualdades, melhorar as condições de vida para a maioria da população. Não
nos podemos contentar com uma simples mudança das protagonistas, nem alinhamos
em teorias de anunciados sebastianismos.
O Bloco enfrenta o poder económico sem contemplações e defende um setor
público forte com o controlo coletivo dos setores estratégicos da economia
regional: a água, a energia, as comunicações, os transportes aéreos, marítimos
e rodoviários, os portos e os aeroportos, o fim das concessões, o resgate das
parcerias público-privadas e a salvaguarda intransigente da saúde, educação e
segurança social como serviços públicos, integrantes da Administração Pública e
fora da lógica empresarial-lucrativa.
Uma estratégia económica para a Região que crie empregos de qualidade e
duradouros, riqueza distribuída por todos, por contraponto à criação de ricos
cada vez mais poderosos e que reservam para o povo pobreza, desemprego e
emigração.
O Bloco de Esquerda tem fortes razões de existir e distingue-se,
claramente, das demais forças políticas. Não procura ocupar o poder pelo poder,
mas transformar a sociedade, para que esta se torne mais justa, mais
igualitária e para que todas as pessoas tenham acesso a uma vida digna.
As coligações pré-eleitorais reduzem o leque das
escolhas disponíveis para os eleitores. Os partidos para encontrarem um
programa comum abdicam de parte dos seus programas políticos e os mais pequenos,
dada a sua relação de força, cedem mais. Com círculo eleitoral único não existem
vantagens em coligações pré-eleitorais,
são mesmo contraproducentes e resultam num conjunto com menor valia que
a soma das partes.
É com a força das nossas convicções que devemos
apresentar-nos às eleições em 2019, na defesa do nosso programa de governo, das
nossas propostas e determinados a confrontar todos os adversários com as suas
contradições e fragilidades. Usaremos toda a força do voto popular para
encontrar as melhores soluções para os problemas dos madeirenses e portossantenses.
O Bloco de Esquerda não faltará às suas responsabilidades e eventuais
convergências terão, sempre, por base programas, políticas concretas,
princípios e valores. As mudanças ocorrem por força da ação coletiva.
O resultado de 2015, em particular a eleição de um deputado à AR, não foi
fruto do acaso, nem exclusivamente de fatores externos. Resultados da mesma
amplitude são possíveis em eleições regionais. Organizemo-nos e façamos por
isso!
8 – Uma região com
futuro e qualidade de vida para todos
A Democracia é Autonomia
Não existe Autonomia sem Democracia e esta não se completa sem Autonomia. A
Autonomia não se reduz à transferência de competências do Terreiro do Paço para
a Quinta Vigia preservando o exercício do poder num caráter centralizador e
autoritário. A Autonomia deve ser praticada na região, em respeito pelo poder
local, sem instrumentalização dos clubes e associações por interesses
partidários e com transparência e participação cidadã. A Autonomia deve
adaptar-se às especificidades de cada porção do seu território e a prática
política interna tem de ser coerente com o discurso no plano nacional. A
Autonomia faz todo o sentido, mas tem de traduzir-se numa melhoria contínua das
condições de vida do povo e na criação de riqueza para todos.
A Autonomia encontra-se capturada por uma máfia parasita que enriquece à
custa do orçamento regional, de obras “públicas” inúteis e da dívida. Para
ocultar responsabilidades, fabrica uma guerrilha com Lisboa para desviar as
atenções dos seus privilégios. Os novos senhorios dominam o partido do poder e
alguns da oposição para assegurar que a eventual alternância entre os partidos centrais
não irá beliscar os interesses instalados. A teia dos interesses estende-se
pelos negócios, pela administração pública, pelas associações e clubes.
O aprofundamento da Autonomia e da Democracia implica uma rutura com a
realidade vigente e a urgência de maior transparência, da criação de mecanismos
de maior participação democrática dos cidadãos.
A figura dos referendos regionais e locais deve ser fomentada para as
decisões com maior impacto e com recurso a meios eletrónicos de votação para contornar
a burocracia.
Repensar o poder local e sua articulação com a Autonomia
A instituição das autonomias regionais não teve efeitos na organização do
poder local. Nunca se questionou a geografia dos municípios e das freguesias,
as atribuições nem a pertinência de existirem três níveis de entidades
administrativas neste território. Este debate deve ser promovido tendo em vista
a maior eficácia da atuação da Administração e o aprofundamento da Autonomia.
As Leis do poder local são pensadas para a realidade do continente onde não
existe uma administração regional. As competências relativas a setores como a
distribuição de água, a recolha de resíduos sólidos e a proteção civil e
bombeiros fazem sentido que continuem atribuídas aos municípios ou podem ser geridas
com maior eficácia a nível regional?
As especificidades das regiões insulares são o fundamento da Autonomia da
Madeira e dos Açores. Em coerência, o Município do Porto Santo deve ter um
estatuto próprio dada a sua situação de dupla insularidade e ponderada a
sobreposição de duas entidades administrativas para o mesmo território -
município e freguesia.
Transparência na administração pública
Urge despartidarizar a administração e as empresas públicas regionais para
garantir que perseguem o interesse público com maior transparência, com criação
de instrumentos para um maior escrutínio por parte dos cidadãos, avaliando a
sua atuação e para uma efetiva participação dos trabalhadores na sua gestão.
O princípio da limitação de mandatos deve ser aplicado aos cargos de
direção superior e intermédia da Administração.
Rigor e escrutínio nos apoios sociais
Os apoios públicos a entidades do setor social devem ter como condição
critérios de transparência, de democraticidade e representatividade. Estas não
podem ser clubes seletos, devem estar abertas à participação democrática plena
de todos os seus beneficiários no respeito pelos princípios do setor social e
cooperativo consagrados na Constituição.
Proteger a floresta
Valorizar a floresta como ativo ambiental fundamental na captação de água,
na estabilidade dos solos e prevenção de aluviões e como o maior atrativo
turístico que temos - a Natureza e a paisagem. Urge reordená-la, geri-la e preservá-la
dos fogos e das espécies infestantes, investir na reflorestação com espécies
endógenas, criar um corpo profissional na administração regional para este
propósito. Tudo o que for investido em ordenamento e prevenção será poupado em
meios de combate e na minimização de catástrofes naturais.
Valorizar agricultura
familiar
Apoiar a agricultura como fonte de sustento e como meio de preservar a
paisagem tradicional. Os produtos típicos, os saberes, os usos e costumes
associados à vida no campo são parte da nossa identidade enquanto povo. Aquilo
que temos de único e distintivo é o que motiva os turistas a nos visitarem.
Pesca, mar e investigação
A preservação das populações de pescado em níveis sustentáveis deve ser
compatível com a manutenção do rendimento dos pescadores. Deve ser evitada a
captura dos proveitos da atividade pelos intermediários e pela grande distribuição.
O Bloco bater-se-á contra a afetação a uso privado de áreas do mar ou da zona
costeira que são domínio público e assim devem permanecer. O mar oferece grande potencial para o
desenvolvimento regional em atividades como o lazer, as competições náuticas, a
investigação científica e a produção de energia. Esta é uma afirmação
recorrente que falta levar à prática. A Região tem de tomar a iniciativa pois, à
espera da iniciativa privada, podemos não sair do plano das possibilidades.
Investir no conhecimento
O conhecimento e a investigação são os fatores onde a RAM deve apostar para
o seu futuro de modo a diversificar a sua economia e progredir no seu desenvolvimento.
Deixar de estar totalmente dependente do turismo e do CINM que vetores
instáveis. Estes fatores permitir-nos-iam desenvolver atividade de elevado
valor acrescentado e gerar empregos de qualidade e que a insularidade, a
distância e os custos de transporte não obstaculizam.
As Tecnologias da informação e as telecomunicações, contudo, não estão
reconhecidas como matérias de interesse regional específico, mas são um setor
de atividade com maior dinamismo e crescimento a nível mundial. As intenções têm
sido muitas, existem um conjunto de iniciativas avulsas e entidades dispersas, mas
que não se articulam e não têm uma visão e uma estratégia conjunta e sustentada
para o setor. A Madeira deve ter uma empresa de telecomunicações que funcione
como o motor neste setor como foi no passado a PT na economia do País. Deve promover
a articulação entre as diferentes entidades com a universidade para,
conjuntamente, terem uma atuação coerente e produtiva.
Região com futuro para
os seus jovens
Os investimentos públicos e privados, em particular os fundos comunitários,
devem ser enquadrados numa visão de futuro, obedecer a critérios rigorosos para
criar empregos duradouros e estabelecer atividades de alto valor assim como
diversificar a economia. Devemos romper com a visão do imediato, de fazer obras
para inaugurações em vésperas de eleições e que servem para enriquecer uns
poucos, que criam empregos de breve duração e que nos levaram à dívida e à
bancarrota. Não é sustentável. O desenvolvimento não é sinónimo de construção,
mas sim maior qualidade de vida e qualificação do emprego.
A política das obras que enchem a vista, esgotou-se. Levaram a Região a um
novo ciclo de emigração - agora de uma geração qualificada - de jovens com
formação universitária, mas que não encontram na Região condições para
construírem a sua vida profissional e familiar. Essas condições não foram
criadas por escolha do poder.
Políticas para a juventude significa criar condições de base para que os
jovens possam permanecer na Região, constituírem família, desenvolverem os seus
conhecimentos e contribuírem para o próprio desenvolvimento regional. O caminho
é canalizar as verbas para o que é importante, para o que garanta um melhor futuro,
uma verdadeira Autonomia.