2019-04-30

O mal da Saúde é a política e não os profissionais

São as políticas erradas e a má vontade do Governo que explicam o mau tratamento aos utentes e outros males do serviço de saúde na Madeira. Os profissionais dão o seu melhor, mesmo em deficientes condições de trabalho e sem a justa valorização salarial e na carreira.

Os problemas no serviço de saúde são bem conhecidos, medicamentos que faltam e outros materiais, equipamentos sem manutenção, instalações degradas que são uma vergonha como no caso dos Marmeleiros, listas de espera imensas, altas problemáticas sem resposta há demasiado tempo, etc.

Na raiz de todos estes problemas está a falta de vontade do Governo Regional, o tempo passa mas não há soluções. Não há falta de dinheiro, ele aparece para outras finalidades, é mesmo falta de vontade e escolhas erradas. A política do Governo é deixar degradar a qualidade dos serviços, fazer cansar e desistir os profissionais para depois apresentar a saúde privada como a solução.

Os profissionais de saúde fazem o que podem e muitas vezes mais do que devem, apesar das parcas de condições de trabalho, correm riscos pessoais dada a degradação de algumas instalações, tentam suprir as carências de materiais e não vêm esse esforço de dedicação reconhecidos, as suas profissões não são valorizadas, não têm remuneração condizente. O quadro de pessoal é insuficiente, faltam enfermeiros, faltam médicos em várias especialidades, os assistentes operacionais estão em situação precária há muitos anos – os profissionais estão exaustos.

O Bloco de Esquerda defende o reforço do financiamento ao serviço público de saúde para garantir o acesso de todos aos cuidados com qualidade, acompanha as reivindicações profissionais de enfermeiros e TSDT, batalha pela regularização dos trabalhadores precários e continuará a defender a dignificação das carreiras dos profissionais de saúde.

Os partidos que subscreveram o memorando da Troika (PS, PSD e CDS) são cúmplices do congelamento das carreiras, dos cortes no financiamento estatal e apoiam a estratégia de facilitar o caminho aos privados. A saúde é um negócio apetecível para os privados pois os “clientes” e os lucros são certos, mas não deve ser um negócio, a saúde é um direito! Os privados que façam o seus negócios pelos seus méritos próprios e não à custa da destruição do serviço público.

Uma nota de reconhecimento pela resposta ao acidente com o autocarro no Caniço, foi impecável a todos os níveis: operacionais no terreno, profissionais no hospital, administração e tutela do SESARAM.


(publicado em dnoticias.pt em 29/04/2019)

2019-04-02

Mobilidade para todos

Nas ligações aéreas, a proteção dos lucros dos sócios privados da TAP, ditou a liberalização, a privatização e um subsídio de mobilidade que é um financiamento encapotado. Tudo em nome da fé no mercado livre e na concorrência que, ao fim de dez anos nunca se chegou.

Nas ligações marítimas a concessão do porto do Caniçal criou um monopólio de facto no transporte de carga para Região. A operação do Armas era uma ameaça, foi afastada e uma farsa de concurso levou a uma nova ligação ferry para as mãos do mesmo operador.

Nos transportes rodoviários, o cenário é o mesmo desde há trinta anos, a Madeira ficou parada no tempo. A ilha repartida em “quintinhas”, para três operadores privados e um público, sem articulação entre eles, sem informação integrada para residentes e visitantes, com autocarros velhos, proibidos de circular em outros países da Europa.

O novo Regime Jurídico de 2015, faz caducar todas as licenças existentes e dá a oportunidade para reformular a gestão de toda a rede de transportes públicos de passageiros, centralizar num único operador público (sem ter de indemnizar os privados), o que é fundamental para uma política de transportes que defenda o interesse de todos, ou seja, responda às necessidades de deslocação das pessoas, entre casa e o trabalho e também pelo lazer, como as infraestruturas desportivas.

O Governo Regional prepara-se para deixar tudo na mesma, em defesa dos lucros dos donos das companhias privadas em vez de defender o interesse da população. O Governo, em final de mandato, quer perpetuar por muitos mais anos, através de novas concessões, o modelo anacrónico que temos, bloqueando a possibilidade de o próximo governo modernizar a rede de transportes públicos.

Os passes são outra frustração de expetativas, em Lisboa o passe de 40€ vale para todos os 14 operadores de todos os 18 municípios da Área Metropolitana. Na Madeira os mesmos 40€ dão para andar numa única companhia, o passe combinado salta para os 62€. Com o PSD, a Autonomia existe para os madeirenses ficarem pior servidos que os portugueses do continente.

Nesta teia de interesses e de promiscuidades entre o público e o privado não encontramos diferenças de monta das propostas para o futuro entre o PS, o PSD e o CDS. O Bloco de Esquerda sim representa uma opção de rutura com o passado e de defesa do que é de todos. Os transportes respondem a necessidade essenciais e o interesse público deve estar acima.


(publicado em dnoticias.pt em 1/04/2019)