A Europa vive desde a II Guerra Mundial o mais longo período de Paz da sua história, não tem precedente um período de 70 anos sem conflitos entre os principais estados do continente. Esta é a grande conquista da União Europeia. Este foi o grande objetivo dos seus fundadores – a Paz entre os povos. O mercado comum foi o meio considerado o meio eficaz de alcançar tal intento. Mas esta ideia de Europa da Paz, da solidariedade e do progresso está ameaçada, o objetivo perdeu-se de vista e o meio, o mercado, passou a constituir o fim em si mesmo.
Os mercados é que mandam. A política europeia é toda ela orientada para o reforço dos mercados: As privatizações, a desregulação e liberalização das atividades económicas, o corte nas funções sociais do Estado, como a saúde, a educação ou a segurança social, a facilitação dos despedimentos, a precariedade crescente do trabalho, a exaltação do papel dos empresários ou dos investidores como os únicos que podem criar riqueza e criar empregos, a apologia do empreendedorismo, do individualismo exacerbado, são tudo facetas da mesma política. Uma política submissa aos interesses dos poderosos.
Brexit e regrexit
Os ingleses votaram a 23 de junho pela saída da união Europeia, mas aparentam terem-se arrependido logo que conheceram o resultado da votação.
Os líderes da campanha pela saída demitiram-se, quais ratos a abandonar o barco mal este ameaçou afundar-se. Tiveram a vitória desejada, mas não sabiam o que fazer com essa vitória e agora alguém que resolva a encrenca. Afinal não estavam a falar a sério, não tinham um plano, só queriam aproveitar o descontentamento popular.
Surgiram as petições a solicitar repetição da votação e já mobilizaram largos milhões de subscritores. E a ideia de Europa unida ganha subitamente novos adeptos. O resultado do referendo terá sido a expressão de um desconforto pelo rumo que leva a Europa, obcecada pela disciplina financeira e esquecida da sua razão de ser, a paz e a prosperidade partilhada como meio de a garantir de forma duradoura.
Outras forças nacionalistas pela Europa apressaram-se a exigir referendos pela saída da União Europeia. O crescimento dos nacionalismos conduziu a Europa no passado a duas grandes guerras, mas o alertas parecem cair em saco roto junto dos líderes europeus. Reagem com uma fuga para a frente em direção ao abismo, com a insistência num rumo que cada vez mais merece rejeição popular.
Esta ideia de Europa da Paz e da solidariedade é demasiado preciosa para ser descartada a troco de nada. É urgente recentrar a política europeia no objetivo da coesão, no crescimento, na paz e na solidariedade, porque a alternativa é o crescimento dos nacionalismos do ressentimento entre os países e a prazo a guerra. A União Europeia tem sido vantajosa para todos os países que a integram, mesmo para os que são contribuintes líquidos do orçamento europeu. O eventual fim da Europa será negativo para todos, como os ingleses parecem aperceber-se agora.
É urgente reforçar a legitimidade democrática das instituições europeias e rejeitar as regras absurdas do Tratado Orçamental, sujeitando-o a referendo como há muito defende o Bloco de Esquerda.
Rejeitar a política de austeridade que acrescenta crise à crise e por toda a Europa rouba salários e pensões para acrescentar lucros às grandes empresas, por uma política que coloque a dignidade das pessoas acima de tudo o resto, em particular, acima das expetativas dos investidores.
(publicado em dnoticias.pt em 19/07/2016)
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