2016-07-19

A Europa doente

A Europa vive desde a II Guerra Mundial o mais longo período de Paz da sua história, não tem precedente um período de 70 anos sem conflitos entre os principais estados do continente. Esta é a grande conquista da União Europeia. Este foi o grande objetivo dos seus fundadores – a Paz entre os povos. O mercado comum foi o meio considerado o meio eficaz de alcançar tal intento. Mas esta ideia de Europa da Paz, da solidariedade e do progresso está ameaçada, o objetivo perdeu-se de vista e o meio, o mercado, passou a constituir o fim em si mesmo.

Os mercados é que mandam. A política europeia é toda ela orientada para o reforço dos mercados: As privatizações, a desregulação e liberalização das atividades económicas, o corte nas funções sociais do Estado, como a saúde, a educação ou a segurança social, a facilitação dos despedimentos, a precariedade crescente do trabalho, a exaltação do papel dos empresários ou dos investidores como os únicos que podem criar riqueza e criar empregos, a apologia do empreendedorismo, do individualismo exacerbado, são tudo facetas da mesma política.  Uma política submissa aos interesses dos poderosos.

Brexit e regrexit
Os ingleses votaram a 23 de junho pela saída da união Europeia, mas aparentam terem-se arrependido logo que conheceram o resultado da votação.

Os líderes da campanha pela saída demitiram-se, quais ratos a abandonar o barco mal este ameaçou afundar-se. Tiveram a vitória desejada, mas não sabiam o que fazer com essa vitória e agora alguém que resolva a encrenca. Afinal não estavam a falar a sério, não tinham um plano, só queriam aproveitar o descontentamento popular.

Surgiram as petições a solicitar repetição da votação e já mobilizaram largos milhões de subscritores. E a ideia de Europa unida ganha subitamente novos adeptos. O resultado do referendo terá sido a expressão de um desconforto pelo rumo que leva a Europa, obcecada pela disciplina financeira e esquecida da sua razão de ser, a paz e a prosperidade partilhada como meio de a garantir de forma duradoura.

Outras forças nacionalistas pela Europa apressaram-se a exigir referendos pela saída da União Europeia. O crescimento dos nacionalismos conduziu a Europa no passado a duas grandes guerras, mas o alertas parecem cair em saco roto junto dos líderes europeus. Reagem com uma fuga para a frente em direção ao abismo, com a insistência num rumo que cada vez mais merece rejeição popular.

Esta ideia de Europa da Paz e da solidariedade é demasiado preciosa para ser descartada a troco de nada. É urgente recentrar a política europeia no objetivo da coesão, no crescimento, na paz e na solidariedade, porque a alternativa é o crescimento dos nacionalismos do ressentimento entre os países e a prazo a guerra. A União Europeia tem sido vantajosa para todos os países que a integram, mesmo para os que são contribuintes líquidos do orçamento europeu. O eventual fim da Europa será negativo para todos, como os ingleses parecem aperceber-se agora.

É urgente reforçar a legitimidade democrática das instituições europeias e rejeitar as regras absurdas do Tratado Orçamental, sujeitando-o a referendo como há muito defende o Bloco de Esquerda.

Rejeitar a política de austeridade que acrescenta crise à crise e por toda a Europa rouba salários e pensões para acrescentar lucros às grandes empresas, por uma política que coloque a dignidade das pessoas acima de tudo o resto, em particular, acima das expetativas dos investidores.


(publicado em dnoticias.pt em 19/07/2016)

2016-07-01

É o preconceito ideológico contra o sector público que move a direita

Para o PSD e o CDS, injetar dinheiro dos contribuintes na banca privada, está muito bem. Recapitalizar a Caixa e mantê-la como banco público é que não pode ser.


Assistimos a um exercício de grande hipocrisia e desfaçatez, pela deputada Maria Luís Albuquerque que veio acusar o atual governo de não responder às suas questões relativas à Caixa Geral de Depósitos, quando é ela quem tem de esclarecer essas questões enquanto ministra das finanças do anterior governo.

Veio aconselhar a que não se apresente justificações com o passado quando ela justifica o desastre do seu governo com o passado.

PSD quer parecer o campeão da transparência ao promover o inquérito à CGD, como se fosse outro PSD e não o que liderou o anterior governo.

Porque não fez auditorias necessárias o anterior governo, porque reconduziu o governador do Banco de Portugal, porque não clarificou a situação do sistema financeiro? Não interessava pois apesar do lema “que se lixem as eleições” Essa clarificação poderia mesmo lixar as eleições para o PSD.

Saída limpa foi uma grande fraude, pois a sujeira esta toda debaixo do tapete

O objetivo é complicar a recapitalização da caixa, para assim conduzir à sua privatização.

Para o PSD e o CDS, injetar dinheiro dos contribuintes na banca privada, está muito bem.

Colocar quatro mil milhões no BES/Novo Banco para o vender rapidamente, excelente. Ter a maioria no Banif e permitir aos privados que continuassem a gerir o banco a seu bel prazer, OK, injetar três mil milhões no Banif para o entregar ao Santander, sem problemas.

Recapitalizar a Caixa e mantê-la como banco público é que não pode ser.

É o preconceito ideológico contra o sector público que move a direita e o favorecimento dos grandes interesses económicos privados.

Essa atuação em prol de interesses particulares, em prejuízo do interesse geral, ficou demonstrada pela contratação da ex-ministra das finanças pela Arrow, uma empresa que se alimenta de bancarrotas alheias. Foi um prémio ao seu desempenho enquanto ministra.


Intervenção na Assembleia da República, no debate sobre o tema subordinado ao tema "Sistema Financeiro", 1 de julho de 2016


(publicado no Esquerda.net a 1/07/2016)