2019-10-21

A coligação da desilusão

O CDS acusou o PSD de ser uma desilusão e apresentou-se às eleições como a “mudança segura” que já merecia ser governo. Afinal não há mudança, o CDS só queria o tacho, entranhou-se na desilusão. 

O entendimento entre PSD e CDS era notório há largos meses, em particular as iniciativas do CDS na ALR que o PSD fez o favor de aprovar, mostravam que havia acordo - não há almoços grátis - o PSD nada dá de “amor em graça”.

O negócio entre os partidos decorreu à volta de lugares, sobre alterações à linha política nada transpareceu (também não há diferenças programáticas para conciliar). O CDS apostou todas as “fichas” para garantir os tachos que satisfazem as ambições pessoais dos seus protagonistas: Rui Barreto queria ir para o Governo e José Manuel Rodrigues queria a presidência da ALR, conseguiram, parabéns (cada um com as suas prioridades). O que é que isso traz de positivo para a vida dos madeirenses? Nada!

O PSD pouco cedeu e por isso o Governo tem mais governantes, se o CDS queria lugares foram criados novinhos em folha, mas as pastas mais importantes mantêm-se nas mãos do PSD. Há mais moscas a rondar mas a matéria é a mesma.

Haverá oposição no Parlamento Regional? As primeiras votações, quase unânimes, para a eleição dos membros da Mesa da ALR dão pertinência à questão: O PS contentou-se em segurar o seu lugar de vice-presidente (para o qual precisou dos votos do PSD) a tentar eleger um presidente diferente do proposto pela maioria, explorando o eventual descontentamento entre os seus elementos. Quanto ao JPP foi meter a colher entre marido e mulher ainda antes do casamento, sugerindo que a noiva não era a mais adequada para a posição que acabou por ocupar.

Logo após a eleições foi noticiado que o Governo Regional encontrou mais um pretexto (Penedo do Sono) para entregar mais uns milhões (seis) ao grupo Sousa, por decisão de um “tribunal arbitral”, privado portanto. Para dar milhões aos donos disto tudo não é de fiar nos tribunais do Estado, algum juiz mais zeloso poderia questionar pelo interesse público … Dezasseis anos após a construção das infraestruturas encontra-se um proprietário dos terrenos que tem de ser indemnizado? Da oposição parlamentar nem um pio.

Na primeira reunião do novo Governo a preocupação maior foi com a comunicação (com a propaganda, entenda-se). É clarificador, a preocupação com a propaganda é tanto maior quanto maior for a intenção de governar contra os interesses do Povo - as ditaduras em regra elevam a propaganda à importância de um ministério.


(publicado em Gnose.eu a 21/10/2019)

2019-10-20

Mais do mesmo

O Bloco ficou muito aquém dos objetivos nas regionais, não resistiu à polarização, ao apelo do voto útil. A Madeira vai ter mais do mesmo: um Governo subserviente aos privados, maiores desigualdades, mais pobreza, falta de perspectivas de futuro, desemprego e emigração.

A forte polarização marcou as eleições regionais de 22 de setembro, apesar da pouca diferenciação das propostas entre os dois maiores contendentes, estes elegeram 85% dos deputados. Tratou-se de uma polarização fulanizada (porque fundada nas personalidades e não nos programas políticos, poucos distintos) que os demais partidos não conseguiram contrariar, os que tinham representação parlamentar sofreram forte quebra na votação, face a 2015 (JPP - 40%; BE - 48%; CDS - 53%; PCP - 63%). No caso do Bloco, o termo de comparação era o mais baixo e aquela quebra significou a saída do parlamento.

Em todas as casas há problemas (divisões, descontentamento, erros) e o Bloco não é excepção, mas essas questões não foram as determinantes para o resultado, se fosse o caso, as sondagens e o sentimento na rua teriam dado conta disso.

Temos um parlamento mais pobre e mais homogénio, com a esquerda (PS é do centro) reduzida a um único deputado, a mais fraca representação de sempre da Autonomia. Uma quase unanimidade de deputados alinhados com o pensamento único dominante, que as empresas privadas é que criam riqueza e empregos e por isso são favoráveis à privatização das funções do Estado, à descida dos impostos sobre as empresas e sobre os ricos (alegadamente para estes investirem, quando a realidade nos mostra que “investem” mas é nos off-shores) e favoráveis à flexibilização e da precarização das relações de trabalho.

Vamos ter mais do mesmo, escolhas políticas que concentram ainda mais a riqueza nas mãos dos “Donos Disto Tudo” e que condenam a esmagadora maioria do população (quem vive do seu trabalho) a maior insegurança no emprego, a menores rendimentos, a serviços públicos (saúde e educação) em degradação progressiva para alimentar os negócios privados.

Em suma, vamos ter mais pobreza, mais desigualdades, menos perspetivas de futuro, mais desemprego e mais emigração. Oxalá eu esteja enganado!


(Publicado em dnoticias.pt em 28/10/2019)