Abril foi antecipado na Madeira, quando em 1931 o povo se levantou contra a miséria das condições de vida, contra os monopólios e contra a ditadura. O Abril de 74 permanece adiado, quando a cultura do medo e da intimidação ainda hoje condicionam a Liberdade.
Em abril assinalámos revoltas pela Liberdade e pela Democracia. A revolta da Madeira fez o povo sair a rua em luta por melhores condições de vida e contra o monopólio da farinha que encareceu o custo do pão. A revolta foi esmagada pela ditadura de Salazar e muitos dos que a apoiaram e beneficiaram de privilégios à sombra da ditadura arvoraram-se depois em herdeiros da revolta, em grandes autonomistas e defensores do povo.
O 25 de abril trouxe finalmente a Liberdade e a Democracia. A Autonomia foi no entanto sequestrada pelos protegidos de Salazar, pelos detentores dos monopólios, receosos de perderem os seus privilégios perante a perspetiva de se estabelecer um poder popular em Lisboa. Subitamente os fieis da ditadura centralista, que elogiavam a agressão colonial contra os povos africanos viraram separatistas e depois autonomistas, recorrendo à força das bombas para impor o seu domínio, intimidar e afastar adversários. E hoje temos um governo regional que favorece os monopólios que encarecem o custo de vida para o povo.
Entre as muitas transformações que o 25 de abril permitiu contam-se a fixação de um salário mínimo, o reconhecimento direito à greve, a liberdade sindical, a definição de horários de trabalho e mecanismos de fiscalização. Medidas de proteção de quem trabalha, pois a riqueza é fruto do trabalho, é criada pelos trabalhadores.
Mas a propaganda dominante, quer fazer-nos crer que são as empresas e os patrões que criam a riqueza (como se os trabalhadores fossem estúpidos), que as leis que protegem quem trabalha são prejudiciais à economia (como se os trabalhadores não fossem parte da economia), que a imposição de remunerações mínimas fomentam a preguiça e o desleixo e que os sindicatos são inimigos dos trabalhadores.
E em maio, que celebra o dia do trabalhador, há também o dia do empresário, onde vão os políticos dos partidos do arco dos interesses (PS, PSD e CDS) prestar vassalagem aos senhores do dinheiro, competir sobre qual se presta a lhes servir melhor os interesses e disputar os financiamentos para as campanhas eleitorais. São todos cúmplices no ataque que é feito aos direitos de quem trabalha e por isso têm vergonha de comparecer nas celebrações do dia do trabalhador.
(publicado em dnoticias.pt em 24/05/2018)