2017-12-30

Defender a Madeira?

Defender a Madeira é levá-la à bancarrota? É criar uma dívida para o povo pagar e que serviu sobretudo para enriquecer meia-dúzia? É fazer obras inúteis - novo cais, marina do Lugar de Baixo, cota 500 e outras - e atirar para Lisboa as culpas de não termos um novo hospital?

“Abençoada dívida”, disse Jardim. A dívida trouxe desenvolvimento, criou empregos, estabeleceu novas atividades económicas e gerou riqueza? Enquanto duraram as obras sim, mas depois não! As vias rápidas, os centros cívicos as promenades, por sí só não dão sustento a ninguém, são antes um encargo pois carecem de manutenção. A dívida foi uma embriaguez, criou uma ilusão de riqueza, mas acabada a “festa” veio a ressaca, voltou a pobreza, o desemprego e a emigração. Ah, mas ficaram os ricos da Madeira nova...

O CINM, dá milhões no IRC mas faz perder mais em transferências da Europa e do Estado. Pelo meio deu 50 milhões a um grupo hoteleiro. O PSD queixa-se de discriminação face aos Açores, a culpa é do CINM, que faz o PIB da Madeira parecer mais alto do que é - uma ilusão de riqueza. Defende o CINM, mas queixa-se das suas consequências.

Milhões do SESARAM vão parar ao tal grupo hoteleiro para lavar a roupa enquanto a lavandaria do hospital está parada. Outros milhões somem-se em análises e exames requisitados aos privados, porque os equipamentos do hospital não são reparados. E a saúde pública continua a degradar-se e a perder recursos.

O ferry foi escorraçado porque estava a mexer nos interesses do grupo que controla os portos e o transporte por mar, grupo que diz “defender a Madeira”, defende, mas como sua “quinta” privada, coisa que o PSD apoia.

O Estado não apoia a Madeira? Apoiou sempre, com vários perdões de dívida, com meios financeiros, técnicos e humanos nas emergências. A Lei de Meios deu 1.100 milhões, que foram em larga medida desbaratados em reparações no Lugar de Baixo, no novo cais e, mais recentemente nas ribeiras do Funchal, enquanto algumas famílias afetadas continuam sem serem apoiadas.

Diz o PSD que não há dinheiro para as expropriações e projetos do novo hospital, mas então como é que há dinheiro para as vias rápidas e pista de atletismo? O que é mais urgente?

O governo exige o pagamento das dívidas a Lisboa, mas não paga o que deve aos municípios, nem sequer a dívida do IRS que Albuquerque não se cansava de exigir quando estava na CMF, como também não revê o tarifário do depósito do lixo na Meia Serra, como também exigia antes. Um pouco mais de seriedade e coerência.

Defender a Madeira não é defender os novos donos da Madeira que enriqueceram com a dívida que o povo agora tem de pagar, nem é atribuir as culpas a Lisboa para branquear as responsabilidades do governo regional. Defender a Madeira é falar a verdade, para prevenir a repetição dos disparates do passado.

É um truque velho, usado por governantes incompetentes e pouco democráticos, inventar um inimigo externo a quem atribuir as culpas de todos os males. Para o regime de Maduro os culpados dos males da Venezuela são a América e a oposição “traidora da pátria”. Para o PSD a culpa dos males da Madeira é de Lisboa e da oposição regional, “traidora da Autonomia”, são tão iguais.

Os inimigos da Madeira não estão em Lisboa, estão cá dentro, são os novos donos disto tudo que enriquecem com a dívida, com as negociatas do CINM, com as concessões dos portos e das vias rápidas. E o povo enganado, para pagar a dívida e ganhar o seu sustento tem de emigrar, depois de 40 anos de autonomia.

As motivações de uma candidatura

O Bloco de Esquerda na Madeira teve em 2015 os melhores resultados de sempre em eleições regionais e nacionais. Porém não está a saber aproveitar esse feito para crescer e afirmar o seu projeto político. Sente-se uma acomodação à sombra do resultado, visto como acidental e não como um novo patamar de ambição que o BE deve assumir e procurar consolidar.

Os resultados nas últimas autárquicas fora do Funchal foram dececionantes e refletem as deficiências na organização interna, a não implantação nas localidades e a incapacidade de atração de novos quadros. À falta de estratégia e de preparação atempada da campanha, juntou-se a falta de meios e eventualmente de vontades, mais pareceu um ato para cumprir calendário.

No Funchal o BE aumentou o número autarcas eleitos, mas o mérito deve ser imputado a Paulo Cafôfo. A participação na coligação Confiança foi necessária e fundamental para que o PSD não recuperasse a Câmara. O Bloco deve manter no futuro a mesma atitude responsável que já demonstrou no passado e que permitiu à Mudança sobreviver à crise de 2014. No entanto, o respeito pelos compromissos e a lealdade para com os parceiros não podem cercear a autonomia nem condicionar a ação do partido.

Posto isto, vários aderentes e dirigentes inconformados com a situação resolvemos traduzir a vontade de mudança na construção de uma lista candidata à Comissão Coordenadora Regional da Madeira do Bloco de Esquerda, a eleger na convenção convocada para 4 de março de 2018, da qual serei o cabeça de lista.

Pretendemos um BE-M maior e mais forte, com uma linha política clara e bem definida, com uma atuação consequente e sem tibiezas. Com propostas concretas para enfrentar o muito que há por fazer na Região e dar contributos válidos à resolução dos problemas das pessoas.

Um partido/movimento mais dinâmico, mais transparente, com processos internos de discussão e decisão coletivos e participados, e aberto a todos os contributos válidos recolhidos da sociedade, com vários protagonistas para além dos deputados eleitos. Um partido mais interventivo fora dos parlamentos, presente nas localidades para ouvir as pessoas e dar seguimento às suas reivindicações, através de ação política concreta.

Um Bloco com orgulho das lutas do passado e crente no seu crescimento, que valoriza os seus militantes e dirigentes, aberto e disponível a novas militâncias e contributos, que reforcem a sua capacidade de intervenção e credibilidade.

Queremos um Bloco de Esquerda que faça a diferença!

A enfrentar o poder económico e a promiscuidade entre o público e privado; a denunciar os privilégios para uns poucos à custa do empobrecimento da maioria, à conta de privatizações, concessões e parcerias público-privadas; ao defender os serviços públicos essenciais (saúde, educação, segurança social) e o controlo público dos setores estratégicos (eletricidade, água, transportes, comunicações).

É nossa convicção que apenas soluções coletivas e sistémicas resolvem os problemas sociais do desemprego e da pobreza e que as formulações salvíficas assentes num suposto caráter messiânico de sujeitos individuais, dotados de qualidade sobre-humanas não passam de propaganda ideológica que visa promover a aceitação social das desigualdades, da pobreza e agrava os problemas.

A marca do Bloco é também o combate intransigente pelos direitos sociais, pela igualdade entre homens e mulheres, contra as discriminações com base na etnia, na identidade sexual, na religião ou outra; pela defesa dos animais e pela proteção do meio ambiente.

O Bloco não pode abdicar das suas causas em nome de conveniências circunstanciais, sob risco de perder a sua identidade e utilidade.
A força e a credibilidade que o BE conquistar vão determinar as opções que terá ao dispor nos desafios futuros. Não é agora o momento para excluir qualquer opção.

Será desastroso ficar limitado a uma única opção, refém de terceiros e sem capacidade de enfrentar os combates pelos próprios meios.

As mudanças comportam riscos e oportunidades. É nossa convicção que esta nossa proposta será muito positiva – os resultados de 2015 foram disso um bom prenúncio – o Bloco tem condições para crescer, para se tornar a força da esperança num futuro melhor para a maioria das pessoas e o motor de uma verdadeira mudança de políticas na Madeira.