O PS e o PSD trocam acusações sobre quem devia fazer algo e nada faz em relação à TAP e aos preços abusivos que cobra nas ligações da Madeira ao Continente. Um triste jogo de espelhos pois ambos têm culpas na situação atual e não querem enxergar o problema. O PS acusa o governo regional de inação, o PSD dispara contra Lisboa, que tem de ter mão na TAP e obriga-la a baixar os preços.
O objetivo da TAP, uma vez privatizada pelo PSD e mantida sob gestão privada pelo PS, é só um: ganhar dinheiro, e vai continuar a sacar o máximo possível na rota da Madeira, a extorquir até que alguém impunha regras. Ora definir obrigações à TAP quanto a preços e número de voos significa o fim da liberalização. Mas isso PS e PSD não querem, continuam a dizer que a liberalização é o melhor dos mundos, embora a realidade diga o contrário todos os dias.
A Liberalização foi decidida em 2008, com a promessa que vinham aí muitas companhias fazer concorrência e que os preços seriam mais baixos. Já passaram 9 anos e a concorrência não aparece nem os preços descem. Sem regras e sem concorrência a TAP aproveita-se da situação, cobra o que lhe apetece e o povo é que se lixa. Mas PS e PSD continuam a não querer enxergar as evidências: que é necessário definir regras de serviço público e obrigar a TAP a cumpri-las; que a liberalização não serve para a Madeira; nove anos é tempo mais que suficiente para perceber isso.
Falta concorrência. A ligação a São Miguel, nos Açores, com muitos menos passageiros, tem mais companhias e preços mais acessíveis. A Ryanair alimentou expetativas de vir para a Madeira e resolver o problema, qual messias salvador. Não veio, exigiu ao governo regional uma compensação pelos custos da operação no aeroporto, pela formação específica a dar aos pilotos e pelos custos do encerramento, quando o vento a tal obriga, com cancelamento e desvio dos voos.
Não há concorrência por causa dos custos de operação, decorrentes do vento e do relevo do terreno onde se situa o aeroporto. Não vale a pena persistir no erro da liberalização, nem vale a pena protestar contra a quinta Vigia ou o Terreiro do Paço (nem contra o vento). É preciso definir regras que defendam quem não tem alternativa, aceitar a realidade e abandonar as teorias que só funcionam nos livros.
(publicado em dnoticias.pt em 22/10/2017)