Os montantes pagos pelos turistas para chegarem à Madeira, o que é gasto pelos residentes quando viajam para fora, ou os incentivos para atrair novas companhias aéreas e novas rotas é dinheiro que não beneficia (diretamente) a economia regional. No primeiro caso porque não chega a entrar nos outros casos porque sai – é riqueza que se perde.
Essa riqueza não se perderia se as ligações aéreas fossem asseguradas por uma companhia regional. Os gastos com as viagens dos turistas entravam na economia regional, como exportações de serviços e os dos residentes não chegavam a sair – redução de importações. Com mais exportações e menos importação a riqueza produzida na região medida pelo PIB seria maior, com mais empregos, de maior qualidade e com maiores receitas fiscais. Só na rota para Lisboa, que representa 30% do tráfego do aeroporto, estão em causa 120 milhões por ano(*).
A TAP é um dos maiores exportadores nacionais e dá um forte contributo para o PIB do país. Uma companhia aérea regional teria um impacto mais significativo na economia Madeira, dado que não há outros grandes exportadores. O nome ‘Madeira’ exibido nos aviões seria por si só uma interessante promoção do destino. Outros arquipélagos têm companhia aérea própria - Açores, Canárias, Cabo Verde ou Ilhas Faroé.
Tornar as desvantagens em oportunidades
O nosso aeroporto é um dos mais difíceis do mundo, o que obriga os pilotos a treino específico. Uma “Air Madeira” teria ao seu serviço os pilotos mais experientes a operar em Santa Cruz e seria vista como a companhia mais segura e confiável para viajar para cá: a desvantagem do aeroporto convertida em vantagem da companhia aérea.
As condições de vento fazem fechar o aeroporto com frequência. O desvio de voos e os atrasos são custo extra para as companhias e transtorno para os passageiros. Não se pode controlar o vento, mas pode-se minimizar os efeitos negativos, recorrendo ao Porto Santo como alternativa e à ligação marítima para escoar os passageiros para a Madeira. Os desvios de aviões para fora da região seriam evitados, com claras melhorias de custos para as companhias e de imagem junto dos turistas.
As desvantagens que decorrem da meteorologia dão-nos o mote para atacar a sazonalidade e a desertificação do Porto Santo. Trata-se de gerir de forma integrada os dois aeroportos, em articulação com as ligações entre as duas ilhas e com uma hotelaria do Porto Santo disponível todo o ano, o que atualmente não acontece. Criar incentivos a pacotes turísticos com passagem pelo Porto Santo – os designados “stop-over” que o governo, com a TAP têm implementado com sucesso em Lisboa e Porto – para que os hotéis mantenham a porta aberta todo o ano e estejam aptos a acolher os passageiros desviados pelo mau tempo. Um ovo de colombo pois ao mesmo tempo combate a sazonalidade da ilha dourada e os efeitos negativos do mau tempo em Santa Cruz.
Uma Air Madeira seria uma arma ao serviço da autonomia: para criar mais riqueza e empregos de qualidade; para oferecer aos residentes ligações aéreas a preços justos e adequadas às necessidades; para trazer visitantes à região, abrindo novas rotas e competindo nos principais mercados de origem do turismo; para ligar as comunidades emigrantes à sua terra natal; para quebrar o isolamento e a desertificação do Porto Santo.
Não há dinheiro, pensará o leitor. A TAP foi privatizada em 61% por dez milhões de Euros. Menos de 10% da TAP chegaria para embrião da companhia regional e uma parceria com a companhia nacional seria de toda a conveniência. Se uma companhia aérea se fizesse com betão há muito a Madeira teria a sua própria companhia de bandeira.
* tráfego de 900.000 passageiros por ano ao preço médio de 134 euros, dados da ANA.
(publicado em dnoticias.pt em 9/05/2017)