2017-01-31

Os ricos, a sua fortuna e a nossa miséria

Não é o trabalho duro, a genialidade ou a visão, que levam à riqueza, mas sim a exploração do trabalho alheio

Os oito homens mais ricos do mundo detêm tanta fortuna como a metade mais pobre da população mundial. Oito homens têm tanto como outros três mil e quinhentos milhões de pessoas. A ideia dominante na nossa sociedade diz-nos que a riqueza resulta do trabalho, do génio e da visão, da capacidade de arriscar. Encontramos essa ideia por todo o lado: na escola no discurso político, nas notícias, na publicidade e até no cinema e nas telenovelas...

Mas será assim? O trabalho árduo conduz à riqueza? Vejamos

Um exemplo próximo: a geração dos meus pais e avós... sempre trabalhou no duro no campo, toda a vida, sem férias e sem horários. Mais do que de sol a sol, o trabalho ia pela noite dentro, pelo domingo, quando giro da água de rega a isso obrigava, na preparação das sementes ou no cuidado dos produtos colhidos. Mas não ficaram ricos. Quem enriqueceu foram os senhorios que nem precisavam de trabalhar. A sua fortuna fez-se da exploração do trabalho dos caseiros, do povo.

A hotelaria na Madeira tem batido recordes de ocupação e de volume de negócios, mas os trabalhadores não ganham com isso. Trabalham mais, com menos direitos e ganham o mesmo ou menos. O aumento do rendimento no turismo vai todo para os patrões – aumentam as desigualdades.

Os CTT foram privatizados, criaram um banco e não admitem pessoal desde 2008. Mais tarefas para menos pessoal, que é pressionado para trabalhar mais sem receber. Mais lucros para os patrões, menos salários - mais desigualdades.

Exemplos que mostram que não é o trabalho duro, a genialidade ou a visão, que levam à riqueza, mas sim a exploração do trabalho alheio. São regras injustas e a falta de escrúpulos, que fazem com que o trabalho de muitos alimente a fortuna de alguns poucos. O caso mais extremo é o da escravatura. Para nem falar de outras trafulhices que todos conhecemos.

Se esta ideia não é verdadeira porque domina na sociedade? Porque as ideias dominantes em cada momento são as ideias de quem tem poder, a classe dominante. A legitimação das desigualdades dada pela ideia de que a riqueza resulta do trabalho é uma ideia que interessa aos ricos. E na conversa dos ricos não há corrupção nem outras aldrabices é só trabalho honesto e dedicação.

Resulta que temos de decretar a morte aos ricos? Não! Mas temos de mudar as regras que permitem tanta injustiça.


(publicado em dnoticias.pt em 31/01/2017)