2016-01-18

O ferry foi e é viável

A promessa de reestabelecer a ligação marítima para passageiros, entre a Madeira e o continente era falsa. E a consulta a sete armadores para aferir do seu interesse na linha não passou de uma fantochada, um faz de conta para entreter o povo. Albuquerque fingiu que procurava resolver o problema, mas a intenção nunca foi essa, foi sempre deixar ficar tudo na mesma, não perturbar os interesses instalados.

Agora diz-se que a linha não é rentável e por isso não há interesse dos armadores, é a conclusão desejada e conveniente.

Mas no passado houve interesse: A Naviera Armas iniciou a em 2008 ligação Canárias – Madeira – Algarve; em 2009 pediu uma segunda ligação semanal; Em 2011, apresentou um novo barco – Volcán de Tinamar – para esta linha, que teve por madrinha a esposa do então presidente do Governo, Ângela Jardim.

Houve interesse continuado e reforçado ao longo dos anos, como o atestam os factos expostos. Se não considerasse viável, o armador espanhol não teria apostado tanto na linha. Mas no início de 2012 a operação foi interrompida.

Foram criados obstáculos: O transporte de carga rodada foi condicionado – cada atrelado tinha de vir acompanhado do camião, após providência cautelar interposta pelo grupo Sousa. A carga é fundamental para a viabilidade da linha, para compensar a sazonalidade do transporte de passageiros.

Vários incidentes foram criados pela APRAM, o mais relevante foi a não autorização para atracar na manhã 31 de dezembro de 2011, ao ferry que trazia 300 passageiros das Canárias para o fim-de-ano na Madeira. Os passageiros regressaram à origem e o armador teve de indemnizá-los. E havia disponibilidade no porto para o desembarque se processar entre as 8:30 e as 11 da manhã.

Em 2011 a linha deu prejuízo de seis milhões, logo não é rentável, argumenta-se. Falso argumento, pois em 2011 o preço do crude bateu recordes em alta e estavam em pleno as limitações impostas de forma artificial ao transporte de carga e às operações do Armas no porto do Funchal. O Armas foi escorraçado, cansou-se de levar pancada, foi-se embora.

E agora pergunta o governo: Não há outros interessados? Para “levar porrada”, pois não, gato escaldado de agua fria tem medo. Os interessados foram informar-se sobre o sucedido no passado. A falta de boa fé do governo neste processo fica bem patente no facto de colocar no grupo de trabalho a presidente da APRAM, que foi quem tudo fez para correr com o Armas da Madeira.
Mas quanta mossa fez a operação do Armas, para merecer tanta sabotagem? Retirou negócio ao grupo Sousa, mas só 10% da carga. Mais importante foi o facto de pôr a nu os preços exorbitantes no Lobo Marinho e no transporte de automóveis de e para o continente.


(publicado em dnoticias.pt a 18/01/2016)